No México,
o Dia dos Mortos é uma celebração de origem indígena,
que honra os defuntos no dia 2 de novembro.
Começa no dia 31 de outubro e coincide com as tradições católicas
do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos. Além do México,
também é celebrada em outros países da América Central e em algumas regiões dos Estados
Unidos, onde a população mexicana é grande. A UNESCO declarou-a como Patrimônio
Imaterial da Humanidade[1]
As
origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis.
Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto. Os rituais que
celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há
três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios
como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o
renascimento.
O
festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do
calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um
mês completo. As
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La Catrina |
festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl,
conhecida como a "Dama da Morte" (do espanhol: Dama de la Muerte) - atualmente
relacionada à La Catrina,
personagem de José Guadalupe Posada - e esposa de Mictlantecuhtli,
senhor do reino dos mortos. As festividades eram dedicadas às crianças e aos
parentes falecidos.
É
uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm
visitar seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces
preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar.
Segundo a crença popular, nos dias 1 e 2, chamados de Días de Muertos, os mortos têm
permissão divina para visitar parentes e amigos. Por isso, as pessoas enfeitam
suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos
que já partiram. As pessoas fazem máscaras de caveira, vestem roupas com
esqueletos pintados ou se fantasiam de morte.
O
Dia dos Mortos fora do México
Estados Unidos Um altar do Dia dos mortos em Los Angeles fazendo
homenagem a antigos programas de TV.
Em várias
comunidades estadunidenses com imigrantes mexicanos, o Dia dos Mortos é
celebrado de maneira bastante semelhante da forma que são celebrados no México.
Em algumas destas comunidades, como o Texas[2] e Arizona[3],
as celebrações costumam ser mais tradicionais. Por exemplo, a Procissão de
Todas as Almas tem sido um evento anual de Tucson desde 1990. O evento combina
elementos do tradicional Dia dos Mortos com outros de festivais pagãos de
colheita. Pessoas usando máscaras carregam sinais homenageando os mortos e uma
urna na qual pode-se colocar pedaços de papel com orações para serem queimadas[4].
Em outras
comunidades, a interação entre as tradições mexicanas e a cultura estadunidense
está resultando em celebrações nas quais tradições mexicanas estão sendo
estendidas para fazer manifestos artísticos, ou às vezes, políticos. Por
exemplo, em Los Angeles, Califórnia,
o centro cultural Self Help Graphics & Art Mexican-American apresenta
uma celebração anual do Dia dos Mortos, que inclui tanto elementos tradicionais
quanto políticos, como altares em honra das vítimas da Guerra do Iraque enfatizando
o alto número de soldados latinos. Uma versão inter-cultural do Dia dos Mortos
também está evoluindo em um cemitério próximo a Hollywood.
Lá, numa mistura de tradições mexicanas e atitudes modernas de Hollywood,
altares convencionais são levantados ao lado de altares a Jayne Mansfield e Johnny Ramone.
Dançarinos e músicos nativos misturam-se com artistas de
performance, enquanto pranksters tocam músicas
tradicionais.
Tradições similares
e modernizações inter-culturais da celebração mexicana ocorre em São Francisco, por exemplo através da Galería
de la Raza, SomArts Cultural Center, Mission Cultural
Center, de Young Museum; em Oakland, Califórnia no Museu de Oakland e com
aulas da antiga arte da Cartonería no centro de educação de artes The
Crucible; e em Missoula, Montana onde celebrantes esqueléticos em pernas de pau,
pequenas bicicletas e esquis desfilam pela cidade[5].
Isto também ocorre
no histórico Forest Hills Cementery, em Boston.
Patrocinado pela Forest Hills Educational Trust e pelo grupo
folclórico La Piñata, o Dia dos Mortos celebra o ciclo de vida e
morte. As pessoas trazem ofertas de flores, fotos, memórias e comida para seus
defuntos os quais são colocados em belos e coloridos altares. Um programa de
música e dança tradicionais também acompanham o evento comunitário.
Europa
Pessoas decorando as sepulturas
Observa-se que o
Dia dos Mortos ao estilo mexicano se espalhou também pela Europa.
Em Praga,
na República Tcheca, por exemplo, os moradores
celebram o Dia dos Mortos com máscaras, velas e caveiras de açúcar. O evento,
que recebe apoio da Embaixada Mexicana, é realizado pelo teatro Alfred
Ve Dvore'[6].
Em vários outros
países com uma herança católica, o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Fiéis Defuntos são feriados onde
as pessoas vão aos cemitérios com velas e flores e dão presentes às crianças,
normalmente doces e brinquedos. Em Portugal e Espanha,
oferendas são feitas neste dia. Na Espanha, a peça Don Juan Tenorio é
tradicionalmente apresentada.
Na Espanha,
Portugal, Itália, Bélgica, Países Baixos, França e Irlanda,
as pessoas trazem flores para as sepulturas dos parentes mortos e fazem orações
pelos mesmos. Na Polônia[7], Eslováquia, Hungria, Lituânia[8], Croácia[9], Eslovênia, Romênia, Áustria, Alemanha, Suécia e Noruega,
a tradição é acender velas e visitar os túmulos dos parentes falecidos. Na
região do Tirol,
bolos são deixados sobre a mesa e a sala é mantida quente para o conforto dos
mortos. Na Bretanha, as pessoas vão aos cemitérios ao anoitecer para ajoelharem-se
perante as lápides de seus entes queridos e ungirem-nas com água benta ou
fazerem libações de leite nela. Na hora de deitar, o jantar é deixado na mesa
para as almas.
América Latina
Celebrações guatemaltecas do
Dia dos Mortos são marcadas pela construção, e uso, de pipas gigantes, além das
tradicionais visitas aos túmulos dos ancestrais. O consumo de fiambre -
uma comida típica da Guatemala - também é um grande acontecimento, pois é o
único dia em que é preparado durante o ano[10].
O feriado brasileiro de
Finados é celebrado no dia 2 de novembro.
Similar ao Dia dos Mortos, as pessoas vão aos cemitérios e igrejas, com flores,
velas e orações. A festa tem intenção de ser positiva, para celebrar os que
estão mortos.
No Haiti, tradições vudu misturam-se com
as observâncias católicas do Dia dos Mortos, como, por exemplo,
barulhentos tambores e músicas são tocados por toda a noite em celebrações
pelos cemitérios para acordar Baron Samedi,
o senhor dos mortos, e seu descendente, o Gede.
Dia de los ñatitas (do espanhol,
Dia das Caveiras) é um festival celebrado em La Paz, Bolívia em 9 de novembro.
Nos tempos pré-colombianos, indígenas andinos tinham o
costume de partilhar um dia com os ossos de seus antecessores no terceiro ano
após o sepultamento, contudo, somente as caveiras são usadas atualmente.
Tradicionalmente, a caveira de um ou mais membros da família são mantidas em
casa para tomar conta da família e protegê-la durante o ano. No dia 9 de
novembro, a família coroa a caveira com flores frescas, às vezes também as
vestindo com peças de roupa, e fazendo oferendas de cigarros, folhas de coca, álcool, e vários
outros itens em agradecimento pela proteção durante o ano. As caveiras também
são, por vezes, levadas ao cemitério central em La Paz para
uma missa especial e bênçãos[11][12].
Ásia
Nas Filipinas,
o feriado chamado Araw ng mga Patay (Dia dos Mortos), Todos
los Santos ou Undas (os últimos dois devido aos fato
de serem celebrados em 1º de novembro),
tem uma atmosfera mais de reunião familiar. As tumbas são limpas ou repintadas,
velas são acesas e flores são oferecidas. Famílias inteiras acampam em
cemitérios, e às vezes passam uma noite ou duas junto às tumbas de seus
parentes. Jogos de cartas, comidas, bebidas, cantos e danças são atividades
comuns no cemitério. É um feriado de muita importância para os filipinos
(depois do Natal e
da Semana Santa), e dias de folga são normalmente
adicionados ao feriado, mas apenas o dia 1º é considerado um feriado regular[13].
Tradições similares em outras culturas
Muitas outras
culturas ao redor do mundo têm tradições similares a respeito de um dia
especial para visitar as sepulturas dos familiares falecidos. Muitas vezes,
estas tradições estão inclusas em festas, algumas com comidas e bebidas, além
de orações e recordações sobre os que já morreram.
Em Wellington, Nova Zelândia,
o Dia dos Mortos mexicano também pode ser encontrado com altares homenageando
os falecidos com flores e presentes[14].
O Bon Odori (em
japonês O-bon お盆 ou simplesmente Bon 盆), é um feriado budista japonês em
honra aos ancestrais mortos. Este festival tem se tornado um reunião familiar
na qual as pessoas dos grandes centros voltam à suas cidades de origem para
visitar e limpar as sepulturas de seus ancestrais. Tradicionalmente inclui
danças típicas. Este festival já existe no Japão por mais de 500 anos.
Na Coréia,
o Chuseok -
também conhecido como Hankawi (한가위,中秋节) (do coreano arcaico ótimo
meio) é um dos principais feriados tradicionais. As pessoas vão para onde
os espíritos de seus ancestrais estão consagrados e fazem cultos pela manhã;
eles visitam as tumbas de seus ancestrais imediatos para podar as plantas e
limpar a área ao redor da tumba, e fazerem ofertas de comida e bebida para seus
acentrais.
O Festival de Ching Ming (do chinês tradicional 清明節; chinês simples 清明节; pinyin īng
míng jié) é um festival tradicional chinês que acontece
normalmente por volta de 5 de abril no calendário Gregoriano. Juntamente com o
Festival do Duplo Nove (no chinês tradicional 重陽節; pinyin: Chóngyángjié; e no chinês
simplificado 重九, pinyin: Chóngjiǔ)
no nono dia do nono mês do calendário chinês, é uma época que os chineses
cuidam dos túmulos de seus ancestrais. Além do que, pela tradição chinesa, o
sétimo mês no calendário chinês é chamado de mês fantasma (chinês simplificado:
中元节; chinês tradicional : 中元節; pinyin: zhōngyuánjié), no qual os
fantasmas e espíritos saem do além para visitar a terra.
Durante o feriado nepalês do Gai Jatra (festival da vaca),
toda família que tenha perdido um membro durante o ano anterior faz uma
construção de babus, panos, papéis decorativos e retratos dos falecidos,
chamado de gai. Tradicionalmente, uma vaca guia o espírito do morto
no outro mundo. Dependendo dos costumes locais, uma vaca viva, ou uma réplica,
são usadas. O festival também é a época de se fantasiar, incluindo temas tanto
de manifestos políticos como de sátiras[15].
Em algumas culturas
da África,
visitas às tumbas dos ancestrais deixando comidas, presentes e pedindo por
proteção fazem parte de importantes rituais tradicionais. Um exemplo são os
rituais que ocorrem antes do início da temporada de caça.[16]
Em cerimônia
realizada em Paris, França em 7 de novembro de 2003, a UNESCO distinguiu
a festividade indígena do Dia dos Mortos como Obra Mestra do Patrimônio Oral e
Intangível da Humanidade. A distinção por considerar a UNESCO que esta
festividade é[17]:
"... uma das
representações mais relevantes do patrimônio vivo do México e do mundo, e como
uma das expressões culturais mais antigas e de maior força entre os grupos
indígenas do país".
Além disso, no
documento se destaca:
"Esse encontro
anual entre as pessoas que celebram e seus antepassados, desempenha uma função
social que recorda o lugar do indivíduo no seio do grupo e contribui na
afirmação da identidade..."
Além de:
"...embora a
tradição não esteja formalmente ameaçada, sua dimensão estética e cultural deve
ser preservada do crescente número de expressões não indígenas e de caráter
comercial que tendem a afetar seu conteúdo imaterial".