Pesquisar Artigos

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Coeficiente de Gini

Ontem (06/11/2016) 8,3 de milhões de jovens realizaram o dito "Exame Nacional do Ensino Médio" (ENEM) e na matéria de matemática apareceu uma questão dita por muitos matemáticos como difícil que foi a de número 156 da prova cinza (154 da prova amarela, 169 da prova azul e 173 da prova rosa), que cobrava que os alunos soubessem o que significa o Índice de Gini, um conceito de medição da desigualdade, da área de economia.

Quem foi Gini?


Corrado Gini (23 de maio de 1884 - 13 de março de 1965) foi um estatísticodemógrafo e sociólogo italiano que desenvolveu o coeficiente de Gini, forma de medição da desigualdade de renda numa sociedade. Gini também foi um influente teórico fascista, e também As bases científicas do fascismo'animal de teta' em 1927.

O Coeficiente de Gini é um importante índice de medição das desigualdades sociais e do nível de concentração de renda.


Coeficiente de Gini – também chamado de Índice de Gini – é um dado estatístico utilizado para avaliar a distribuição das riquezas de um determinado lugar. Esse índice recebe esse nome em homenagem ao seu desenvolvedor, o estatístico italiano Corrado Gini, que elaborou esse conceito em 1912.

Esse importante dado numérico funciona da seguinte forma: é mensurado em um número que vai de 0 a 1, de forma que 0 representa um país totalmente igualitário – isto é, em que toda a sua população possui a mesma renda –, e 1 representa um país totalmente desigual, em que apenas um indivíduo ou uma parcela muito restrita de pessoas concentra toda a renda existente.
O Brasil possui um dos piores coeficientes de Gini do mundo, ficando empatado com Equador e estando à frente de países como a Bolívia, Camarões e Madagascar, segundo um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O certame ainda destacou que, entre os 15 países mais desiguais do mundo, 10 deles encontram-se na América Latina.
Isso significa que o Brasil possui um dos maiores níveis de concentração de renda, em que uma pequena parcela da população retém a maior parte da riqueza. Apesar desse dado ruim, vale a ressalva de que o país é aquele que apresenta a melhora mais significativa do índice de Gini em todo o mundo nos últimos anos. Em 1990, o valor do coeficiente era de 0,607 e, em 2011, caiu para 0,527.
Os motivos que levaram à sucessivas quedas, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estão relacionados, sobretudo, com a estabilização da moeda depois da forte crise econômica que marcou o país no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, além da difusão de programas governamentais de base assistencialista, como o Bolsa Família. Além do mais, apesar do modelo educacional brasileiro ainda ser considerado precário, houve algumas melhorias nesse setor, o que, aliado ao aumento da oferta de empregos, condicionou melhores oportunidades à parcela mais pobre da população.
Os países menos desiguais em todo o mundo, conforme as medições do coeficiente de Gini, são Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249). Em situação alarmante, além do Brasil e dos demais países mencionados, destacam-se a África do Sul (0,593) e a Namíbia (0,707).
Apesar de ter a importante função de demonstrar os níveis de desigualdade existentes em um determinado território, o índice de Gini possui algumas limitações. Primeiramente, os dados informados nem sempre são precisos e referem-se a um período relativamente curto ao longo do ano, o que diminui o seu grau de precisão. Em segundo lugar, os dados são obtidos a partir de um fornecimento voluntário por parte dos governos e agências de pesquisa, de forma que, conforme os diferentes interesses, as informações podem apresentar distorções. Além disso, esse dado não verifica a potencialidade de crescimento da população mais rica em face da população mais pobre e vice-versa, apresentando apenas informações “estáticas”.
De toda forma, esse coeficiente é importante no sentido de fornecer uma melhor noção da desigualdade existente no mundo, além de promover a abertura necessária para medidas de inclusão de renda e melhorias nas condições de vida da parcela mais pobre da população. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A Religiosidade Africana



Qual é a verdadeira religião dos africanos? Existe uma ou são várias as religiões na África? Quais os motivos de terem tantos nomes e deuses diferentes? Em que medida é importante para nós, brasileiros, conhecermos a religiosidade africana? Serão essas, entre outras questões, que tentaremos responder ao longo desta Unidade, bem como apresentar alguns aspectos relevantes para a compreensão do universo religioso na África. Leia com atenção os textos, pesquise, e reflita como os tais elementos e suas múltiplas interpretações influenciam o nosso cotidiano.

A Religiosidade no Continente Africano


Os povos, em suas singularidades, possuem diferentes formas de compreender, interpretar e se relacionar com o universo ao seu redor. A maneira como determinado grupo se expressa é fruto de experiências vividas por várias gerações ao longo do tempo. As estratégias de resistência, as técnicas de ocupação ou o simples modo de tratar a terra são os elementos formadores do que chamamos de cultura:

[...] cultura, em sua origem latina, significa “ação, processo ou
efeito de cultivar a terra; lavra, cultivo”. Posteriormente, as ciências
humanas irão ampliar o seu uso para as ações do homem que
criam estratégias de sobrevivência e transformação do meio. Daí
a antropologia compreender cultura como “conjunto de padrões
de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que
distinguem um grupo social” ou ainda, “forma ou etapa evolutiva
das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais (de um lugar
ou período específico); civilização.
(DICIONÁRIO HOUAISS..., 2001, verbete “cultura”)

A cultura de um povo ou grupo pode ser conhecida por meio de suas várias manifestações: festas populares, organizações administrativas, distribuição de tarefas e de poder, hábitos alimentares, cultos religiosos e tradições. A diversidade cultura de um continente é expressa também pelas suas manifestações religiosas e, no caso da África, a característica marcante é a pluralidade de suas expressões. Não existe uma religião africana, mas religiões africanas que são tão múltiplas como as culturas dentro de uma nação ou grupo linguístico. E, justamente pela sua diversidade e multiplicidade, elas são de difícil compreensão e catalogação.

Religião como elemento cultural

Glossário: RELIGIÃO tem origem no termo latino re-ligare que significa voltar a ligar, ligar
novamente, religar
. As ciências humanas estudam há muito não só as origens, mas
também as manifestações religiosas dos povos no decorrer do tempo, bem como suas consequências na vida cotidiana das pessoas e as influências sócio-politicas-econômicas dos diferentes grupos religiosos.
·.
A cultura de um povo ou grupo abrange todas as esferas da vida pessoal e comunitária e
determina a maneira como tal grupo irá habitar a terra. Cada grupo irá criar estratégias para sua sobrevivência e manutenção sem, no entanto, perder as suas origens e preservando a experiência das gerações anteriores. Dessa forma, o idioma, os hábitos, os alimentos, a organização política, a distribuição dos recursos, as técnicas agrícolas, a domesticação de animais, etc. serão partes de um todo que torna singular a existência daquele grupo específico. Portanto, as práticas religiosas, os mitos e a maneira de conceber sua relação com o Sagrado e com o mundo ao redor são elementos da cultura.
Num continente como o Africano, a pluralidade de culturas não se limita às nações, mas também a pequenos grupos ou clãs dentro dos países. A atual República Democrática do Congo – antigo Zaire – é um significativo exemplo, pois, como nota Barco (1982, p. 129),

[...] país de vinte e seis milhões de habitantes, conta com
quatrocentos e cinquenta tribos, cada qual representando
uma cultura diferente, com cerca de 300 línguas e dialetos.
Se isso acontece em um só país, o que pensar então da
totalidade dos países da África negra, mais ou menos vinte
ao total?


Atualmente, o continente africano é formado por 54 (cinquenta e quatro) países
reconhecidos e 6 (seis) em pendência!

Como aconteceu com todos os povos, os africanos passaram por vários estágios em seu
desenvolvimento cultural. Os grupos passaram de pequenos núcleos familiares a clãs, em alguns casos criaram grandes civilizações, povos e reinos poderosos e temidos. Todas essas mudanças provocaram alterações em seu modo de viver e de habitar o mundo ao seu redor, bem como de se organizar politicamente. A religião desempenhou um importante papel para a manutenção das tradições culturais desses povos e, embora tenha sido influenciada por tradições posteriores, a religiosidade africana manteve vários de seus elementos fundamentais, inclusive nos africanos da diáspora.

Sobre as civilizações africanas, confira os trabalhos sobre os reinos de Axum, de
Kush, da Núbia, dos povos Haussás, além do conhecido Egito.

O homem africano não deixou de cultuar seus deuses ancestrais, as forças da natureza e o divino presentes na existência de cada pessoa, mesmo depois de todas as transformações sofridas pelas diversas nações, sua desestruturação, devido ao comércio com os árabes, às invasões europeias e ao mercado de carne humana, que causaram o sofrimento e a destruição de famílias e até de tribos inteiras.

A diversidade religiosa-cultural na África

Alguns estudiosos das religiões, como Küng (2004, p. 15), na tentativa de melhor conhecê-las e estudá-las, classificam-nas em, ao menos, três grandes correntes: “as religiões originárias da Índia: hinduísmo e budismo; as religiões originárias da China: confucionismo e taoísmo; as religiões originárias do Oriente Médio: judaísmo, cristianismo e islamismo”. E mais adiante o mesmo autor, afirma que:

[...] A estas acrescentam-se as religiões tribais que –
praticamente sem dispor de quaisquer textos escritos
– constituem de certa forma o terreno onde todas as
religiões estão enraizadas, e que, ao mesmo tempo,
continuam a existir nas várias regiões do mundo.

Durante muito tempo, as religiões tradicionais africanas, baseadas em mitos, lendas ou
tradições eram denominadas como primitivas. Tais opiniões que delas se produziam eram frutos de observadores estrangeiros que as comparavam com suas próprias religiões e locais de culto, atribuindo valores e conceitos pejorativos às práticas africanas. Entretanto, a religião só pode ser compreendida quando vista a partir de sua própria cultura, com seus ritos, símbolos e gestos tradicionais.

As dificuldades de pesquisas, bem como a diversidade de manifestações religiosas unidas ao fato de que as tradições são transmitidas oralmente – inexistência de relatos escritos ou livros sagrados – contribuíram para o preconceito em relação aos ritos e cultos africanos. Para o africano, a religião não é um mero sistema composto por rituais e mitos celebrados em cultos e festas. Nas palavras de Tshibangu (2010, p. 605), ela “impregna toda a trama da vida individual e comunitária da África”, e ainda, constitui “o modo de vida, o fundamento da cultura, da identidade e dos valores morais”.

Cada grupo étnico ou cultural africano tem seu próprio culto religioso e, num mesmo
país, as expressões religiosas podem ser muito diversas e, em alguns casos e situações, até antagônicas. Daí não ser possível falar de uma única religião tradicional africana, que seja uniforme em todo o continente. O contato e a influência de outras religiões, sobretudo com o Islamismo e o Cristianismo, impactaram todos os âmbitos da vida do africano. Sua visão de mundo, de sociedade, de sagrado foi transformada pelos modelos partilhados pelas outras crenças religiosas. Papel fundamental nesta mudança foi o desempenhando pela educação que, em vários países africanos, ficou a cargo de missionários ora cristãos, ora mulçumanos.


A prática de outras religiões não apagou no africano aquilo que ele tem de mais profundo e que foi absorvido por meio dos seus ancestrais. Como afirma Tshibangu (2010, p.606):

A religião tradicional africana consistiu, especialmente, em um
meio de explorar as forças da natureza e de sistematizar os novos
conhecimentos sobre o ambiente humano e físico. Em seu desejo de
compreender os múltiplos aspectos da natureza e de fazer frente a eles,
o africano identificou várias divindades e instaurou numerosos cultos.
A religião tradicional africana não fazia proselitismo e era aberta. Ela
tolerava a inovação religiosa como manifestação de um novo saber,
sempre esperando interpretar e interiorizar estes conhecimentos no
âmbito da cosmologia tradicional. Desta forma e paulatinamente, o
cristianismo à imagem do islã, desenvolveu-se na África, inicialmente,
em uma relação simbiótica com a religião tradicional.


Apesar das diferenças culturais e das influências externas sofridas, as religiões tradicionais preservaram alguns elementos que são comuns entre elas e nos ajudam a compreender a relação do africano com o sagrado.

As religiões tradicionais

Um dos primeiros aspectos a serem considerados quando se trata de religiosidade africana é a diversidade cultural do continente. Para este caso, é interessante dividir o continente em, apenas, duas grandes regiões: a África do Norte e a África subsaariana, pois é possível encontrar algumas semelhanças no interno de cada uma delas.


A região do norte da África (ou Setentrional, o “Magreb”) se estende do Mediterrâneo até o Atlântico e o deserto do Saara, incluindo a Etiópia e o Egito. E como elemento religioso comum está a presença das tradições islâmica e cristã que há muito tempo chegaram ao continente negro e que são professadas pela maioria das pessoas desses países.
A África Subsaariana é a vasta região do continente africano que compreende a maioria dos países. Em muitos casos, esses povos ainda preservam a organização social em tribos ou clãs, o que permite a manutenção de muitas das tradições ancestrais, inclusive religiosas. Entretanto, junto com o grande número de adeptos das religiões tradicionais convivem, pacificamente, os praticantes de outras religiões como o Islã, o Cristianismo e, também, o Hinduísmo. Sobre dados estratégicos na África, observemos o que diz Tshibangu (2010, p.607):

Cada qual sabe o quanto é difícil obter estatísticas exatas, por
diversas razões: os recenseamentos nacionais são raros ou
inexistentes, as estatísticas constituem um desafio na luta pelo
poder entre grupos iguais e, finalmente, nem sempre se sabe, em
qual momento aqueles pretensos adeptos do islã ou do cristianismo,
efetivamente, abandonaram a religião tradicional e, tampouco,
quando eles retornaram a esta última.

Diante disso, é possível para autores como Küng (2004, p. 40) afirmarem que:

O número de pessoas que se consideram cristãs, por exemplo
no país central do Zimbábue, na África Meridional, mal chega
à metade. Mas todos – cristãos e não-cristãos (talvez por
influência cristã ou islâmica) – acreditam em Mwari, o único Deus
criador. De mistura com isso podemos muitas vezes encontrar a
tradicional religiosidade africana, segundo a qual os fatores mais
importantes que determinam o mundo e o homem são as forças
invisíveis. Em tudo isso é fundamental a relação com os espíritos
ancestrais. Eles se encontram mais perto dos homens do que o
distante Deus criador.

As religiões tradicionais, apesar das diferenças e particularidades, apresentam alguns
elementos comuns. Esses podem ser reconhecidos nas várias tradições e apontam para uma cosmovisão e uma relação com o mundo e com o outro típicas do homem africano. Para Lopes (2011, p. 49), quando estuda as tradições dos povos Iorubás*:
[...] existe uma força suprema, geradora de todas as coisas. Abaixo
dela existem e são cultuadas as forças da natureza e os espíritos
dos antepassados.
No pensamento tradicional negro-africano [...], o maior bem
da existência é a força vital. Assim, todos os seres, sejam eles
humanos, animais, vegetais ou minerais tem sua força, que pode
ser aumentada, diminuída ou transferida para outro ser.

Você sabia?
Você sabia que os negros que vieram para o Brasil eram de diferentes procedências? As várias culturas que foram transferidas para este lado do Atlântico foram classificadas em dois grandes grupos: os nagôs-iorubas e os bantos. Pesquise e descubra mais a respeito!!

Dentre esses elementos comuns, destacamos: o respeito pelos ancestrais, a existência de
forças do bem e do mal, a fé nos espíritos ou na bruxaria, a importância dos curandeiros, a existência de um deus supremo, a oralidade na transmissão das tradições. A maneira de se relacionar com o sagrado determina a organização da vida em sociedade na África.


Respeito pelos ancestrais

Os dados sobre as religiões tradicionais estimam que o número de seus adeptos esteja em torno de 20%. A maioria da população total declara pertença a outros grupos religiosos, como o islã e o cristianismo. Entretanto, a base da religiosidade e dos valores morais encontra-se nas tradições dos clãs e tribos, na experiência transmitida por gerações. Um primeiro elemento a ser destacado é o respeito pelos ancestrais, são os antepassados os responsáveis pela ligação entre o grupo e o sagrado. Em O Livro das Religiões, GAARDER (2000, p.93) escreve sobre o culto aos antepassados e afirma que ele é:

uma expressão que implica interação entre os vivos e os mortos.
Os vivos obtêm força e socorro de seus ancestrais; ao mesmo
tempo, os mortos dependem das oferendas de seus descendentes:
é por meio desses sacrifícios que adquirem sua força e potência.
Se não receberem oferendas, irão “morrer”, isto é, cessar
completamente de existir.

Como afirma Tshibangu (2010, p.608), “[...] especialmente através de libações, crê-
se ainda que eles intervenham na vida dos seus sucessores [...]”. Ao mencionar em seus
estudos a estrutura filosófica do pensamento dos povos bantus, Lopes (2011, p. 149)
afirma que: “De fato, parece que em todas as religiões bantas os espíritos dos ancestrais
são os intermediários entre a divindade suprema e o homem”, e, mais adiante, citando
outros autores, ele segue afirmando:
Entre os Bantos, então, a onipresença dos ancestrais é total:
“Nenhum trabalho nos campos, nenhum casamento, nenhuma
cerimônia de puberdade tem lugar sem que estejam em ligação
com os mortos” (THOMAS; LUNEAU, 1981, I, p. 78). Assim,
eles não só continuam a fazer parte da comunidade dos vivos como
evidenciam sua importância. Porque “os mortos, ao passarem
pela agonia individual da morte, adquiriram um conhecimento
mais profundo do mistério e do processo de participação vital do
universo” (NYANG, 1982, p. 30).
Para o africano, uma vez nascidos, somos para sempre vivos. Portanto, a família
compreende os vivos e os mortos, e também os ainda não nascidos. Esse ancestral que faleceu continua próximo à tribo, à família, à comunidade dos ainda vivos. Nem todos aqueles que morrem tornam-se ancestrais e, por isso, nem todos são objetos de grandes cultos – algumas homenagens se limitam a flores, enfeites e cuidados com o lugar de sepultamento. Na maioria das vezes, torna-se um ancestral digno de culto comunitário, alguém que teve algum destaque durante a vida, como patriarca, chefe tribal, líder militar, etc.

Existência de forças do bem e do mal

Para o africano, o universo é concebido como uma realidade na qual a totalidade dos seres
convivem harmoniosamente, e onde as várias realidades coexistem concomitantemente. Assim, afirma Tshibangiu (2010, p. 610), acreditam que “[...] existem forças do bem e do mal, passíveis de manipulação pela acessão direta às divindades, por meio das orações e do sacrifício [...]” A crença na existência de espíritos que povoam o mundo físico é fenômeno conhecido em várias religiões, em diferentes épocas da história da humanidade. Para o individuo que viveu na Idade Média e era de formação cristã, o mundo estava repleto de espíritos e várias práticas, ritos e cerimônias eram necessários para expulsá-los – em alguns casos, quando tais espíritos se apossavam das pessoas, somente os exorcismos ou a fogueira eram suficientes para eliminá-los. Nas religiões tribais, como as tradicionais africanas, os espíritos podem se manifestar como protetores de famílias ou crianças, como espíritos errantes que não tiveram o sepultamento adequado ou ainda como protetores de tribos inteiras ou de seus chefes. Os amuletos e talismãs são necessários tanto para afastar os maus quanto para manter próximos os bons espíritos. Segundo Küng (2004), esse tipo de pensamento não é exclusivo de africanos, pois não é incomum encontrar entre europeus pessoas que temem os maus espíritos ou que procuram proteção de bons espíritos por meio do uso de amuletos, orações, rituais ou coisas semelhantes.
                                                                                 
Fé nos espíritos ou na bruxaria: os curandeiros

As práticas relacionadas aos espíritos transcendem a dimensão religiosa do africano. Essa fé é observada nos costumes, tradições e elementos do patrimônio cultural. Por isso é possível afirmar, nas palavras de Tshibangu (2010, p.610) que:

Desta forma, a solidariedade, constatada em meio a numerosas famílias expandidas, clãs ou comunidades, articular-se, todavia, em torno de algumas crenças em espíritos ancestrais, venerados periodicamente nos ritos conduzidos por sacerdotes.

O curandeiro – ou nganga (em banto) – é o responsável por cuidar da saúde da comunidade. Para a sociedade tradicional africana, a visão de saúde é algo mais amplo, e não apenas a ausência de doença, pois está associada, como nos afirma Tshibangu (2010, p. 610), ao:
bem estar na vida cotidiana, o sucesso em sua propriedade rural ou
em seu trabalho, qualquer fosse ele, a saúde das crianças, a sua
felicidade na escolha de um parceiro para a vida, e assim,
sucessivamente.
Os males não são meramente físicos, os sintomas denunciam uma situação de desarmonia que pode estar associada a situações relacionadas com um vizinho, um familiar ou um ancestral já falecido. Daí a consulta ao curandeiro, pois ele conhece os segredos das ervas e é capaz de, ao identificar uma doença e, principalmente, as suas causas, indicar o tratamento e a erva adequado para o caso. Como o africano acredita na existência de bruxos ou feiticeiros que usam do seu conhecimento para a prática do mal, cabe ao curandeiro anular o feitiço e reestabelecer a saúde da pessoa. “O tratamento, porém, costuma ser acompanhado de amuletos e fórmulas mágicas para controlar os espíritos maus” (GAARDER, 2000, p. 94).
Alguns curandeiros podem também ser consultados como adivinhos e, para realizar o
seu trabalho, usam várias técnicas de adivinhação com objetos, amuletos que manifestam a resposta do espírito. O adivinho pode ainda, com o recurso do transe alcançado por meio de músicas e danças, ser possuído por um espírito e permitir que esse se manifeste diretamente ao consulente. Essas pessoas possuem um importante papel tanto na vida da comunidade como no culto religioso.

Crença num Deus supremo. A oralidade

As culturas africanas têm como um dos elementos comuns, marcantes e característicos, a transmissão oral de seus conhecimentos, e foi exatamente por meio dos contos e mitos que as tradições religiosas foram passadas de geração em geração.

Glossário: Mito, segundo uma das definições do dicionário Houaiss, é um relato simbólico, passado de geração em geração dentro de um grupo, que narra e explica a origem de determinado fenômeno, ser vivo, acidente geográfico, instituição, costume social, etc.

Os estudiosos, ao resgatarem vários mitos de criação, puderam concluir que na maioria dos clãs ou tribos existe a crença em um deus supremo, criador de todas as coisas que existem. Esse Deus criador recebe muitos nomes, o que é natural tendo em vista que existem mais de 1000 línguas faladas no continente africano.
Ao falar da ideia da força que permeia quase todas as culturas africanas, Lopes (2011, p. 145), menciona as tradições bantas dos Balubas, estudadas pelo padre Théodore Theuws, pois,
[...], a fonte de toda força e de toda vida é Deus, ou seja,
Syakapanga, o Pai-Criador ou ainda Mwine bumi bwandi, aquele
que detém a vida em si mesma, pois não a recebeu de ninguém;
aquele que “forjou as coisas com a palavra saída de sua boca;
aquee que não é parte das forças da natureza e sim o Criador que
as domina”, já que os Balubas não são panteístas (1958, p. 25).

Um mito resumido da criação do mundo
A ponte entre o Orum e o Aiyê
Reza uma história africana, originária de o Orum, o espaço infinito, e lá vivia o deus supremo Ketu, que no início de tudo havia Olorum. Certo dia, Olorum criou uma imensa massa de água, de onde nasceu o primeiro orixá: Oxalá, o único capaz de dar vida. Olorum mandou Oxalá partir e criar o aiyê, o mundo. Só que Oxalá não fez as oferendas necessárias para a viagem e enfrentou
sérios problemas no caminho. Quem acabou criando o mundo foi
Odudua, sua porção feminina. Para consolar Oxalá, o deus supremo lhe deu outra missão: a de inventar os seres que habitariam o aiyê. Assim Oxalá usou a água branca e a lama marrom para criar peixes azuis, árvores verdes e homens de todas as cores. Foram justamente os homens que, mais tarde, imaginaram formas de adorar e representar a saga de deuses como Oxalá, Odudua, Olorum e tantos outros.
Fonte: Canal Futura

Esse Deus supremo é o responsável, em última instância, pela criação de tudo que povoa o mundo que conhecemos: animais, vegetais e seres humanos. Para muitos povos, um Deus com tanta responsabilidade e sendo o criador de tudo não está sempre disponível e, por isso, ele criou seres intermediários que estão presentes nas florestas, nas montanhas, rios ou mares e que fazem desses lugares seus espaços de domínio. Existem, portanto, seres que dominam os fenômenos da natureza – como os ventos, as tempestades ou os raios –,os que conhecem os segredos das ervas e plantas e os que dominam o aço e os outros metais. Diante de uma necessidade, o homem deve procurar esse espírito ou outro ser intermediário e a ele pedir o conselho, a ajuda ou a mediação. Esses seres são responsáveis, ainda, pela manutenção da saúde e da fertilidade das mulheres e da terra.
Atualmente existe um esforço em reconhecer o valor das fontes orais, pois foi por meio delas que as tradições religiosas – assim como a cultura e os valores morais – foram acumuladas, preservadas e transmitidas em várias gerações de africanos. O papel que a religião tradicional desempenhou nas lutas pela independência em vários países também está sendo resgatado.

Algumas considerações

O Brasil é um dos países que mais africanos recebeu durante os quase três séculos de
escravidão negra. E esses homens e mulheres não chegaram vazios de seu patrimônio cultural e religioso. O universo religioso africano – recriado nas condições possíveis de um cativeiro –, assim como o indígena e o cristão-europeu –, fez parte da formação do povo brasileiro. O preconceito com relação às praticas religiosas que preservaram parte desse patrimônio cultural é fruto da ignorância a respeito das histórias, culturas e religiões trazidas por pessoas de clãs, tribos e nações tão diversas. Ao retomar a sua história e ao procurar conhecer mais a história da África, o brasileiro percebe as diferenças e as contribuições que herdamos desse continente. Num país com tantas influências religiosas, culturais e linguísticas, é fundamental trilhar o caminho mais adequado, que é o do conhecimento, do respeito e da prática da tolerância entre os grupos. As palavras de Gaarder (2000, p.15) são bem oportunas:


O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e
seus pontos de vistas, é um pré-requisito para a coexistência
humana. Isto não significa que devemos aceitar tudo como
igualmente correto, mas que cada um tem o direito de ser
respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem
os direitos humanos básicos.

Proclamação da República no Brasil


 
Marechal Deodoro da Fonseca

Introdução 

No final da década de 1880, a monarquia brasileira estava numa situação de crise, pois representava uma forma de governo que não correspondia mais às mudanças sociais em processo. Fazia-se necessário a implantação de uma nova forma de governo, que fosse capaz de fazer o país progredir e avançar nas questões políticas, econômicas e sociais.

Crise da Monarquia 

A crise do sistema monárquico brasileiro pode ser explicada através de algumas questões:
Dom Pedro II

- Interferência de D.Pedro II nos assuntos religiosos, provocando um descontentamento na Igreja Católica;

- Críticas feitas por integrantes do Exército Brasileiro, que não aprovavam a corrupção existente na corte. Além disso, os militares estavam descontentes com a proibição, imposta pela Monarquia, pela qual os oficiais do Exército não podiam se manifestar na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra;

- A classe média (funcionário públicos, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, artistas, comerciantes) estava crescendo nos grandes centros urbanos e desejava mais liberdade e maior participação nos assuntos políticos do país. Identificada com os ideais republicanos, esta classe social passou a apoiar o fim do império;

- Falta de apoio dos proprietários rurais, principalmente dos cafeicultores do Oeste Paulista, que desejavam obter maior poder político, já que tinham grande poder econômico;

Diante das pressões citadas, da falta de apoio popular e das constantes críticas que partiam de vários setores sociais, o imperador e seu governo, encontravam-se enfraquecidos e frágeis. Doente, D.Pedro II estava cada vez mais afastado das decisões políticas do país. Enquanto isso, o movimento republicano ganhava força no Brasil.

A Proclamação da República 

Proclamação da República, óleo sobre tela, de 1893,
autoria de Benedito Calixto (Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo)
No dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho de Ministros e seu presidente. Na noite deste mesmo dia, o marechal assinou o manifesto proclamando a República no Brasil e instalando um governo provisório.

Após 67 anos, a monarquia chegava ao fim. No dia 18 de novembro, D.Pedro II e a família imperial partiam rumo à Europa. Tinha início a República Brasileira com o Marechal Deodoro da Fonseca assumindo provisoriamente o posto de presidente do Brasil. A partir de então, o pais seria governado por um presidente escolhido pelo povo através das eleições. Foi um grande avanço rumo a consolidação da democracia no Brasil.


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Crise de 1929 (Grande Depressão)



Após a primeira guerra mundial (1918), os EUA eram o país mais rico do planeta. Além das fábricas de automóveis, os EUA também eram os maiores produtores de aço, comida enlatada, máquinas, petróleo, carvão....
Nos 10 anos seguintes, a economia norte-americana continuava crescendo causando euforia entre os empresários. Foi nessa época que surgiu a famosa expressão “American Way of Life” (Modo de Vida Americano). O mundo invejava o estilo de vida dos americanos.
A década de 20 ficou conhecida como os “Loucos Anos 20”. O consumo aumentou, a indústria criava, a todo instante, bens de consumo, clubes e boates viviam cheios e o cinema tornou-se uma grande diversão.
Os anos 20 foram realmente uma grande festa! Nessa época, as ações estavam valorizadas por causa da euforia econômica. Esse crescimento econômico (também conhecido como o “Grande Boom”) era artificial e aparente, portanto logo se desfez.
De 1920 até 1929, os americanos iludidos com essa prosperidade aparente, compraram várias ações em diversas empresas, até que no dia 24 de outubro de 1929, começou a pior crise econômica da história do capitalismo.
Vários fatores causaram essa crise:
Superprodução agrícola: formou-se um excedente de produção agrícola nos EUA, principalmente de trigo, que não encontrava comprador, interna ou externamente.
Diminuição do consumo: a indústria americana cresceu muito; porém, o poder aquisitivo da população não acompanhava esse crescimento. Aumentava o número de indústrias e diminuía o de compradores. Em pouco tempo, várias delas faliram.
Livre Mercado: cada empresário fazia o que queria e ninguém se metia.
Quebra da Bolsa de Nova York: de 1920 a 1929, os americanos compraram ações de diversas empresas. De repente o valor das ações começou a cair. Os investidores quiseram vender as ações, mas ninguém queria comprar. Esse quadro desastroso culminou na famosa “Quinta-Feira Negra” (24/10/1929 - dia que a Bolsa sofreu a maior baixa da história).
Se o valor das ações de uma empresa está desabando, o empresário tem medo de investir capital nessa empresa. Se ele investe menos, produzirá menos; se produz menos, então, não há motivo para tantos empregados, o que levará o empresário a demitir o pessoal.
Muitos empresários não sobreviveram à crise e foram à falência, assim como vários bancos que emprestaram dinheiro não receberam de volta o empréstimo e faliram também.
A quebra da bolsa trouxe medo, desemprego e falência. Milionários descobriram, de uma hora para outra, que não tinham mais nada e por causa disso alguns se suicidaram. O número de mendigos aumentou.
A quebra da bolsa afetou o mundo inteiro, pois a economia norte-americana era a alavanca do capitalismo mundial. Para termos uma idéia, logo após a quebra da bolsa de Nova York, as bolsas de Londres, Berlin e Tóquio também quebraram.
A crise fez com que os EUA importassem menos de outros países, como conseqüência os outros países que exportavam para os EUA, agora estavam com as mercadorias encalhadas e, automaticamente, entravam na crise.
Em 1930, a crise se agravou. Em 1933, Roosevelt foi eleito presidente dos EUA e elaborou um plano chamado New Deal. O Estado passou a vigiar o mercado, disciplinando os empresários, corrigindo os investimentos arriscados e fiscalizando as especulações nas bolsas de valores.
Outra medida foi a criação de um programa de obras públicas. O governo americano criou empresas estatais e construiu estradas, praças, canais de irrigação, escolas, aeroportos, portos e habitações populares. Com isso, as fábricas voltaram a produzir e vender suas mercadorias. O desemprego também diminuiu. Além disso, o New Deal criou leis sociais que protegiam os trabalhadores e os desempregados.
Para acabar com a superprodução, o governo aplicava medidas radicais que não foram aceitas por muitas pessoas: comprava e queimava estoques de cereais, ou então, pagava aos agricultores para que não produzissem.
O New Deal alcançou bons resultados para a economia norte-americana.
Essa terrível crise que atravessou a década ficou conhecida como Grande Depressão.
Os efeitos econômicos da depressão de 30 só foram superados com o inicio da Segunda Guerra Mundial, quando o Estado tomou conta de fato sobre a economia ajudando a ampliar as exportações. A guerra foi então, uma saída natural para a crise do sistema capitalista.
Na década de 30, ocorreu a chamada “Política de Agressão (dos regimes totalitários – Alemanha, Itália e Japão) e Apaziguamento das Democracias Liberais (Inglaterra e França)”.
A política de agressão culminou em 1939 quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia dando por iniciada a Segunda Grande Guerra.