O emérito sociólogo
polonês Zygmunt Bauman nasceu no dia 19 de novembro de 1925,
em Poznán. Ele principiou sua trajetória acadêmica na Universidade de Varsóvia,
mas logo foi obrigado a deixar a academia, em 1968, ao mesmo tempo em que sua
obra era proibida neste país.
Nascido em uma família de judeus poloneses não praticantes, ele e seus familiares
transferiram-se para a União
Soviética após a invasão e
anexação da Polônia (1939) por forças
alemãs e soviéticas (então aliadas nos termos do Tratado Germano-Soviético).
Durante a Segunda
Guerra Mundial, Bauman serviu ao Primeiro
Exército Polonês, controlado pelos soviéticos, atuando como instrutor político.
Participou das batalhas de
Kolberg (atual Kołobrzeg) e de Berlim. Em maio de 1945, foi
condecorado com a Cruz de Valor.
Conheceu sua esposa, Janine Bauman, nos acampamentos de refugiados polacos.
Ao longo dos anos
1940 e 1950, Bauman foi um entusiasmado
militante do Partido Operário
Unificado Polaco, o partido comunista da Polônia. Segundo o Instituto da Memória Nacional da Polônia, entre 1945 e 1953 Bauman
era oficial do Corpo de Segurança Interna (em polonês, Korpus Bezpieczeństwa Wewnętrznego,
KBW), uma unidade militar especial formada na Polônia, sob o governo stalinista, para combater os ucranianos nacionalistas insurgentes e os remanescentes do Armia Krajowa, a principal organização da resistência da Polônia à ocupação do país, durante a Segunda
Guerra. Mais tarde, entre 1945 e 1948, Bauman trabalhou para a inteligência militar, embora a
natureza e a extensão de suas atividades sejam desconhecidas, assim como as
circunstâncias sob as quais que ele abandonou tais atividades.
Durante uma entrevista ao jornal The Guardian, Bauman confirmou
ter sido um devotado comunista - durante e depois da Segunda Guerra -
e nunca ter feito segredo disso. Admitiu que ingressar no serviço de
inteligência militar aos 19 anos tenha sido um erro, apesar de só ter realizado
tediosas atividades burocráticas e jamais ter dado informações sobre alguém.
Enquanto servia no KBW, Bauman também estudava sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais
de Varsóvia. Mas, em 1953, já no posto de major, foi subitamente excluído do
KBW - e de maneira desonrosa -, depois que seu pai se aproximou da embaixada
israelense em Varsóvia, com vistas a emigrar para Israel. Uma vez que Bauman não
compartilhava absolutamente das ideias sionistas do pai , sendo, de fato, francamente antissionista, sua demissão causou um
severo, embora temporário, distanciamento do pai. Durante o período em que
ficou desempregado, decidiu completar seu mestrado e, em 1954, tornou-se
professor assistente na Universidade
de Varsóvia, onde permaneceu até 1968. Inicialmente, Bauman se manteve próximo
à ortodoxia marxista mas, influenciado por Antonio Gramsci e Georg
Simmel, tornou-se crescentemente crítico ao governo comunista da Polônia.
Passaria então a trabalhar, com outros acadêmicos da Universidade, numa
concepção humanista do marxismo.
De todo modo, Bauman sempre se declarou socialista e, nos seus últimos anos de vida,
dizia que, mais do que nunca, o socialismo é necessário ao mundo.
Submetido a uma crescente pressão política, conectada ao expurgo conduzido por Mieczysław
Moczar, chefe do Służba
Bezpieczeństwa, o Serviço de Segurança polonês, Bauman renunciou à sua filiação
ao Partido Operário Unificado em janeiro de 1968. Os eventos de março de 1968 na Polônia culminaram com um expurgo que levou
muitos comunistas poloneses de ascendência judia a sair do país. Bauman, que
havia sido demitido da Universidade de Varsóvia, estava entre eles. Para deixar
o país, teve que abdicar de sua cidadania polonesa. Primeiramente foi para Israel, para lecionar na Universidade de Tel Aviv. Em 1971,
aceitou um convite para ensinar sociologia na Universidade de Leeds. Desde
então, seus trabalhos passaram a ser publicados quase que exclusivamente em
inglês, e sua reputação cresceu exponencialmente.
Em 2011, durante entrevista concedida ao semanário polonês Polityka,
Bauman criticou Israel e o sionismo,
dizendo que Israel não estava interessado na paz mas somente em "se
aproveitar do Holocausto para legitimar atos
inadmissíveis". Comparou o Muro
da Cisjordânia aos muros do Ghetto de Varsóvia, onde centenas de
milhares de judeus morreram. O embaixador israelense em Varsóvia, Zvi Bar,
qualificou os comentários de Bauman como "meias verdades" e
"generalizações infundadas."
De acordo com Bauman, nos tempos atuais, as
relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e
menos duradouras. Uma de suas frases poderia ser traduzida, na língua
portuguesa, por "as relações escorrem pelo vão dos dedos". Segundo o seu conceito de "relações
líquidas", formulado, por exemplo, em Amor
Líquido, as relações amorosas deixam de ter aspecto de
união e passam a ser mero acúmulo de experiências, e a insegurança seria parte estrutural
da constituição do sujeito pós-moderno, conforme escreve en Medo
Líquido. Bauman
é frequentemente descrito como um pessimista, na sua crítica à pós-modernidade. De fato, enquanto os cientistas, poetas e artistas da mainstream empenham-se
na exaltação das virtudes do capitalismo, ele se insere na contracorrente, procurando expor
exatamente a face desumana do capital.
Obra
Bauman tem mais de trinta obras publicadas no
Brasil, dentre as quais Amor
Líquido, Globalização:
as Conseqüências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Tornou-se conhecido por suas
análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade e holocausto.
Referências
- ↑ «Tempo Social: Entrevista com Zigmunt Bauman»
- ↑ Morreu Zygmunt Bauman, o teórico da sociedade líquida. Por António Guerreiro. Público, 9 de janeiro de 2017, 18:14]
- ↑ ab c «Zygmunt Bauman: uma biografia». Colunas Tortas. Consultado em 2015-08-17
- ↑ ab Piotr Gontarczyk: Towarzysz "Semjon". Nieznany życiorys Zygmunta Baumana Archived 29 August 2013 at the Wayback Machine. "Biuletyn IPN", 6/2006. S. 74-83
- ↑ Aida Edemarter iam, "Professor with a past", The Guardian, 28 de abril de 2007.
- ↑ Roman Frister, Polish-Jewish sociologist compares West Bank separation fence to Warsaw Ghetto walls, Haaretz, 1º de setembro de 2011.
- ↑ «Amor Líquido - Zygmunt Bauman: uma resenha». Colunas Tortas. Consultado em 16 de agosto de 2015
- ↑ «Medo Líquido - Zygmunt Bauman: uma resenha». Colunas Tortas. Consultado em 2015-08-17
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