Batalhão mirim e soldadinhos da Polícia Militar
fazem homenagem ao movimento MMDC
Um batalhão mirim,
com 45 crianças e adolescentes da Sociedade MMDC, de veteranos de 1932, mais um
contingente de mais 60 a 70 soldadinhos da Polícia Militar participarão hoje do
Desfile de 9 de Julho, no Parque do Ibirapuera, na comemoração do aniversário
de 86 anos da Revolução Constitucionalista. MMDC é a sigla formada pelos nomes
dos quatro jovens – Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo – mortos em 23 de
maio, em um tiroteio no centro da cidade.
“Nosso exército
desfilará com fardas iguais às usadas pelos combatentes, para lembrar a
história ainda recente da revolta de São Paulo contra a ditadura de Getúlio
Vargas, pois compete a nós, a geração atual, manter a memória do que ocorreu e
não deixar que se percam os valores pelos quais os paulistas lutaram”, disse a
advogada Sílvia Regina Giometti Luz Magalhães, responsável pela arregimentação
dos participantes na MMDC.
No
batalhão Mirim da Sociedade MMDC, quase todos são netos ou bisnetos de
veteranos de 1932. Foto: Alex Silva
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Os meninos foram
treinados na Escola Superior de Sargentos da Polícia Militar, Sargento Roselin
Dias. Acompanhados dos pais, receberam o fardamento, assistiram a um vídeo
sobre a Revolução de 32 e ouviram uma breve explicação sobre o movimento. Quase
todos são netos ou bisnetos de veteranos. No desfile do ano passado, nove
crianças e adolescentes marcharam ao lado de adultos. “Temos agora o maior
número de participantes”, informou Sílvia Magalhães.
Provavelmente nenhum
veterano ex-combatente comparecerá este ano ao Ibirapuera. “Temos apenas 19
sobreviventes, se não tiver morrido mais alguém”, observou o coronel reformado
Mário Ventura, de 80 anos, presidente da Sociedade MMDC. Da lista de veteranos,
constam ex-combatentes da antiga Força Pública (atual Polícia Militar), todos
com mais de 104 anos, e civis que serviram como escoteiros, ainda adolescentes,
para entrega de correspondência às famílias dos soldados.
Um dos veteranos, coronel Irany Paraná do Brasil,
de 104 anos, escreveu em 2005 o livro 1932 – A Guerra de São Paulo,
no qual conta a sua experiência na luta e interpreta os fatos que provocaram a
Revolução Constitucionalista, à qual aderiu aos 18 anos.
O
batalhão mirim e os soldadinhos da Polícia Militar fazem homenagem ao movimento
MMDC. Foto: Alex Silva
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“Muitos perguntam que guerra foi aquela entre
irmãos... Perguntamos a nós mesmos e respondemos: não, de nada valeu aquele
sacrifício”, escreveu o coronel em 2005, ao citar um comentário do historiador
Hélio Silva sobre a necessidade de se analisar a guerra paulista e suas
consequências com base em depoimentos de personagens que dela participaram. Foi
o que fizeram outros historiadores que estudaram o episódio, entre eles Hernâni
Donato (A Revolução de 32), Antônio Carlos Pereira (Folha Dobrada),
José Alfredo Vidigal Pontes (1932, o Brasil se Revolta), Marco Antonio
Villa (Imagens de uma Revolução) e Carlos Daróz (Um Céu Cinzento, a
História da Aviação na Revolução de 1932).
“A Revolução de 1932 é um dos episódios menos
conhecidos da história recente do Brasil, apesar de haver sobre o assunto vasta
literatura”, afirma o jornalista Antônio Carlos Pereira, na Introdução de Folha
Dobrada, publicado em 1982. Editor de Opinião de O Estado de S. Paulo,
ele descreve o engajamento do jornal e de seus proprietários, a família
Mesquita, na guerra contra o presidente Getúlio Vargas, que haviam apoiado em
1930. O movimento de oposição não foi só da oligarquia e dos barões de café,
como alguns analisam, mas da maioria do povo paulista, com apoio da Força
Pública, que logo aderiu à revolta. Nem foi um movimento separatista – como
afirmavam os adversários.
A revolta uniu
políticos, empresários, militares e milhares de voluntários. As elites se
mobilizaram pelo Partido Republicano Paulista (PRP), em aliança com o Partido
Democrata. A chegada de Vargas ao poder acabou com a política do café com
leite, pela qual paulistas e mineiros se revezavam no governo. São Paulo, o
Estado mais rico da federação, perdeu espaço no cenário nacional e aliou-se a
Minas e ao Rio Grande do Sul contra a incipiente ditadura, quando Vargas
dissolveu o Congresso e as assembleias estaduais.
84 dias.
Os paulistas decidiram pela luta armada. A deflagração estava marcada para 14
de julho, mas foi antecipada para o dia 9, por causa do risco de traição. A
convocação para a luta atraiu, em dois dias, cerca de 50 mil voluntários. A
guerra durou 84 dias, de 9 de julho a 2 de outubro. Sob o comando do general
Isidoro Dias Lopes, veterano da Revolução Paulista de 1924 contra Artur
Bernardes, o general Bertoldo Klinger foi nomeado chefe das operações e o
coronel Euclydes Figueiredo assumiu a Frente Norte, no Vale do Paraíba.
São Paulo inscreveu
mais de 200 mil voluntários, mas só uns 30 mil ou 40 mil tinham condições de
lutar. As forças federais ultrapassaram 300 mil soldados. As baixas foram
enormes. Marco Antonio Villa fala em 634 mortos constitucionalistas, enquanto
Hernâni Donato calculou mais de mil.
A imprensa paulista apoiou e incentivou o movimento
até o fim. Apesar de consecutivos revezes, os jornais informavam que os
constitucionalistas iam vencer. “O Exército da lei mantém valentemente as suas
posições”, dizia a manchete do Estado, em 29 de setembro, quatro dias antes da rendição.
Julio de Mesquita Filho, que lutava na linha de frente do Vale do Paraíba, ao
lado de seus irmãos Francisco e Alfredo Mesquita, protestou, com outros líderes
civis, quando o general Klinger propôs o armistício e se rendeu ao poder
central, no dia 2 de outubro. Os civis acreditavam que São Paulo ainda teria
condições de virar o jogo. Não tinha.
Motivos da derrota. Historiadores e analistas militares apresentam três
motivos para a derrota da Revolução Constitucionalista: a precariedade de
armamentos, o fato de o general Klinger não ter trazido de Mato Grosso, onde
era comandante, os homens prometidos (desembarcou na Estação da Luz com 10
subordinados) e o fato de o coronel Euclydes Figueiredo não ter avançado logo
para o Rio. O coronel estacionou tropas em Cruzeiro, à espera de reforços
mineiros e gaúchos. Foi um erro: Minas e Rio Grande do Sul aderiram às tropas
federais de Getúlio Vargas.
Presos após a
derrota, os principais líderes da Revolução foram deportados para Portugal.
Eram 48 oficiais do Exército, 3 da Força Pública e 53 civis, entre os quais
Julio de Mesquita Filho, Francisco Mesquita, Paulo Nogueira Filho, Pedro de
Toledo, Antônio Mendonça e Guilherme de Almeida. Voltaram em 1933, com a
anistia decretada por Getúlio. “Entrego o governo de São Paulo aos revolucionários
de 1932”, afirmou o presidente, ao nomear interventor o paulista Armando de
Salles Oliveira, depois eleito governador pela Assembleia. Em 1934, o País
ganhou Constituição e liberdade que durou pouco tempo, até 1937, quando o
Estado Novo reinstalou a ditadura. Os revolucionários constitucionalistas
consideraram que tiveram uma vitória política em 1932, apesar da derrota
militar.
FONTE: José Maria Mayrink, O Estado de S.Paulo
09 Julho 2017 | 03h00
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