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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Zygmunt Bauman (1925 - 2017)


O emérito sociólogo polonês Zygmunt Bauman nasceu no dia 19 de novembro de 1925, em Poznán. Ele principiou sua trajetória acadêmica na Universidade de Varsóvia, mas logo foi obrigado a deixar a academia, em 1968, ao mesmo tempo em que sua obra era proibida neste país.
Nascido em uma família de judeus poloneses não praticantes, ele e seus familiares transferiram-se para a União Soviética após a invasão e anexação da Polônia (1939) por forças alemãs e soviéticas (então aliadas nos termos do Tratado Germano-Soviético).
Durante a Segunda Guerra Mundial, Bauman serviu ao Primeiro Exército Polonês, controlado pelos soviéticos, atuando como instrutor político. Participou das batalhas de Kolberg (atual Kołobrzeg) e de Berlim. Em maio de 1945, foi condecorado com a Cruz de Valor. Conheceu sua esposa, Janine Bauman, nos acampamentos de refugiados polacos.

Ao longo dos anos 1940 e 1950, Bauman foi um entusiasmado militante do Partido Operário Unificado Polaco, o partido comunista da Polônia. Segundo o Instituto da Memória Nacional da Polônia, entre 1945 e 1953 Bauman era oficial do Corpo de Segurança Interna (em polonês, Korpus Bezpieczeństwa Wewnętrznego, KBW), uma unidade militar especial formada na Polônia, sob o governo stalinista, para combater os ucranianos nacionalistas insurgentes e os remanescentes do Armia Krajowa, a principal organização da resistência da Polônia à ocupação do país, durante a Segunda Guerra. Mais tarde, entre 1945 e 1948, Bauman trabalhou para a inteligência militar, embora a natureza e a extensão de suas atividades sejam desconhecidas, assim como as circunstâncias sob as quais que ele abandonou tais atividades.
Durante uma entrevista ao jornal The Guardian, Bauman confirmou ter sido um devotado comunista - durante e depois da Segunda Guerra - e nunca ter feito segredo disso. Admitiu que ingressar no serviço de inteligência militar aos 19 anos tenha sido um erro, apesar de só ter realizado tediosas atividades burocráticas e jamais ter dado informações sobre alguém.
Enquanto servia no KBW, Bauman também estudava sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia. Mas, em 1953, já no posto de major, foi subitamente excluído do KBW - e de maneira desonrosa -, depois que seu pai se aproximou da embaixada israelense em Varsóvia, com vistas a emigrar para Israel. Uma vez que Bauman não compartilhava absolutamente das ideias sionistas do pai , sendo, de fato, francamente antissionista, sua demissão causou um severo, embora temporário, distanciamento do pai. Durante o período em que ficou desempregado, decidiu completar seu mestrado e, em 1954, tornou-se professor assistente na Universidade de Varsóvia, onde permaneceu até 1968. Inicialmente, Bauman se manteve próximo à ortodoxia marxista mas, influenciado por Antonio Gramsci e Georg Simmel, tornou-se crescentemente crítico ao governo comunista da Polônia. Passaria então a trabalhar, com outros acadêmicos da Universidade, numa concepção humanista do marxismo. De todo modo, Bauman sempre se declarou socialista e, nos seus últimos anos de vida, dizia que, mais do que nunca, o socialismo é necessário ao mundo.
Submetido a uma crescente pressão política, conectada ao expurgo conduzido por Mieczysław Moczar, chefe do Służba Bezpieczeństwa, o Serviço de Segurança polonês, Bauman renunciou à sua filiação ao Partido Operário Unificado em janeiro de 1968. Os eventos de março de 1968 na Polônia culminaram com um expurgo que levou muitos comunistas poloneses de ascendência judia a sair do país. Bauman, que havia sido demitido da Universidade de Varsóvia, estava entre eles. Para deixar o país, teve que abdicar de sua cidadania polonesa. Primeiramente foi para Israel, para lecionar na Universidade de Tel Aviv. Em 1971, aceitou um convite para ensinar sociologia na Universidade de Leeds. Desde então, seus trabalhos passaram a ser publicados quase que exclusivamente em inglês, e sua reputação cresceu exponencialmente.
Em 2011, durante entrevista concedida ao semanário polonês Polityka, Bauman criticou Israel e o sionismo, dizendo que Israel não estava interessado na paz mas somente em "se aproveitar do Holocausto para legitimar atos inadmissíveis". Comparou o Muro da Cisjordânia aos muros do Ghetto de Varsóvia, onde centenas de milhares de judeus morreram. O embaixador israelense em Varsóvia, Zvi Bar, qualificou os comentários de Bauman como "meias verdades" e "generalizações infundadas."

Pensamento


De acordo com Bauman, nos tempos atuais, as relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Uma de suas frases poderia ser traduzida, na língua portuguesa, por "as relações escorrem pelo vão dos dedos". Segundo o seu conceito de "relações líquidas", formulado, por exemplo, em Amor Líquido, as relações amorosas deixam de ter aspecto de união e passam a ser mero acúmulo de experiências, e a insegurança seria parte estrutural da constituição do sujeito pós-moderno, conforme escreve en Medo Líquido. Bauman é frequentemente descrito como um pessimista, na sua crítica à pós-modernidade. De fato, enquanto os cientistas, poetas e artistas da mainstream empenham-se na exaltação das virtudes do capitalismo, ele se insere na contracorrente, procurando expor exatamente a face desumana do capital.

Obra

Bauman tem mais de trinta obras publicadas no Brasil, dentre as quais Amor Líquido, Globalização: as Conseqüências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Tornou-se conhecido por suas análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade e holocausto.







Referências

  1. Ir para cima «Tempo Social: Entrevista com Zigmunt Bauman»
  2. Ir para cima Morreu Zygmunt Bauman, o teórico da sociedade líquida. Por António Guerreiro. Público, 9 de janeiro de 2017, 18:14]
  3. ↑ Ir para:a b c «Zygmunt Bauman: uma biografia». Colunas Tortas. Consultado em 2015-08-17
  4. ↑ Ir para:a b Piotr Gontarczyk: Towarzysz "Semjon". Nieznany życiorys Zygmunta Baumana Archived 29 August 2013 at the Wayback Machine. "Biuletyn IPN", 6/2006. S. 74-83
  5. Ir para cima Aida Edemarter iam, "Professor with a past", The Guardian, 28 de abril de 2007.
  6. Ir para cima Roman Frister, Polish-Jewish sociologist compares West Bank separation fence to Warsaw Ghetto walls, Haaretz, 1º de setembro de 2011.
  7. Ir para cima «Amor Líquido - Zygmunt Bauman: uma resenha». Colunas Tortas. Consultado em 16 de agosto de 2015
  8. Ir para cima «Medo Líquido - Zygmunt Bauman: uma resenha». Colunas Tortas. Consultado em 2015-08-17